(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
17 de dezembro
1) Oração
Ó Deus, criador e redentor do gênero humano,
quisestes que o vosso Verbo
se encarnasse no seio da Virgem.
Sede favorável à nossa súplica
para que o vosso Filho Unigênito,
tendo recebido a nossa humanidade,
nos faça participar da sua vida divina.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 1,1-17)
1Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. 2Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos. 3Judá gerou Farés e Zara, cuja mãe era Tamar. Farés gerou Esrom; Esrom gerou Aram; 4Aram gerou Aminadab; Aminadab gerou Naasson; Naasson gerou Salmon; 5Salmon gerou Booz, cuja mãe era Raab. Booz gerou Obed, cuja mãe era Rute. Obed gerou Jessé. 6Jessé gerou o rei Davi.
Davi gerou Salomão, daquela que tinha sido mulher de Urias. 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias; 9Ozias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias. 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia.
12Depois do exílio na Babilônia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; 13Zorobabel gerou Abiud; Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azor; 14Azor gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó. 16Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. 17Assim, as gerações desde Abraão até Davi são catorze; de Davi até o exílio na Babilônia catorze; e do exílio na Babilônia até Cristo, catorze.
3) Reflexão
* A genealogia define a identidade de Jesus. Ele é o "filho de Davi e filho de Abraão" (Mt 1,1; cf 1,17). Como filho de Davi, ele é a resposta de Deus às expectativas do povo judeu (2Sam 7,12-16). Como filho de Abraão, é uma fonte de bênção para todas as nações (Gn 12,13). Judeus e pagãos vêem suas esperanças realizadas em Jesus.
* Na sociedade patriarcal dos judeus, as genealogias traziam nomes somente de homens. Surpreende o fato de Mateus colocar cinco mulheres entre os antepassados de Jesus: Tamar, Raab, Rute, a mulher de Urias e Maria. Por que Mateus escolhe precisamente estas quatro mulheres como companheiras de Maria? Nenhuma rainha, nenhuma matriarca, nenhuma juíza, nenhuma das mulheres lutadoras do êxodo: por quê? Esta é a pergunta que o evangelho de Mateus deixa na nossa cabeça.
* Na vida das quatro mulheres companheiras de Maria existe algo anormal. As quatro são estrangeiras, conceberam seus filhos fora dos padrões normais e não satisfaziam às exigências das leis da pureza do tempo de Jesus. Tamar, uma Cananéia, viúva, se vestiu de prostituta para obrigar o patriarca Judá a ser fiel à lei e dar-lhe um filho (Gn 38,1-30). Raab, uma Cananéia de Jericó, era a prostituta que ajudou os israelitas a entrar na Terra Prometida (Js 2,1-21). Rute, uma Moabita, viúva pobre, optou para ficar do lado de Noemi e aderiu ao Povo de Deus (Rt 1,16-18). Tomou a iniciativa de imitar Tamar e de ir passar a noite na eira, junto com Booz, forçando-o a observar a lei e dar-lhe um filho. Da relação entre os dois nasceu Obed, o avô do rei Davi (Rt 3,1-15; 4,13-17). Betsabea, uma Hitita, mulher de Urias, foi seduzida, violentada e engravidada pelo rei Davi, que, além disso, mandou matar o marido dela (2Sm 11,1-27). O modo de agir destas quatro mulheres estava em desacordo com as normas tradicionais. No entanto, foram estas iniciativas pouco convencionais que deram continuidade à linhagem de Jesus e trouxeram a salvação de Deus para todo o povo. Tudo isto nos faz pensar e nos questiona quando damos demasiado valor à rigidez das normas.
* O cálculo de 3 x 14 gerações (Mt 1,17) tem um significado simbólico. Três é o número da divindade. Quatorze é o dobro de sete. Sete é o número da perfeição. Por meio deste simbolismo Mateus exprime a convicção dos primeiros cristãos de que Jesus apareceu no tempo estabelecido por Deus. Com a sua chegada a história alcançou o seu pleno cumprimento.
4) Para um confronto pessoal
1) Qual a mensagem que você descobre na genealogia de Jesus? Você encontrou uma resposta para a pergunta que Mateus deixou na nossa cabeça?
2) As companheiras de Maria, a mãe de Jesus, são bem diferentes do que imaginávamos. Qual a conclusão que você tira disso para a sua devoção a Nossa Senhora?
5) Oração final
Seu nome dure para sempre,
diante do sol permaneça seu nome.
Nele serão abençoadas todas as raças da terra
e todos os povos vão proclamá-lo feliz meu coração
e que na inocência lavei minhas mãos?
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
18 de dezembro
1) Oração
Ó Deus todo-poderoso,
concedei aos que gememos na antiga escravidão, sob o jugo do pecado,
a graça de ser libertados
pelo novo natal do vosso Filho
que tão ansiosamente esperamos.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 1, 18-24)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - 18Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. 19José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente. 20Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. 22Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: 23Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14), que significa: Deus conosco. 24Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.
3) Reflexão
* No Evangelho de Lucas a história da infância de Jesus (capítulos 1 e 2 de Lucas) está centrada em torno da pessoa de Maria. Aqui no Evangelho de Mateus a infância de Jesus (capítulos 1 e 2 de Mateus) está centrada em torno da pessoa de José, o prometido esposo de Maria. José era da descendência de Davi. Através dele Jesus pertence à raça de Davi. Assim, em Jesus se realizam as promessas feitas por Deus a Davi e à sua descendência.
* Como vimos no evangelho de ontem, nas quatro mulheres companheiras de Maria na genealogia de Jesus, havia algo anormal que não estava de acordo com as normas da lei: Tamar, Raab, Rute e Betsabéia. O evangelho de hoje mostra que também em Maria havia algo de anormal, contrário às leis da época. Aos olhos do povo de Nazaré ela apareceu grávida antes de conviver com José. Nem o povo nem José o futuro marido sabiam a origem desta gravidez. Se José tivesse sido justo conforme a justiça dos escribas e fariseus, ele deveria ter denunciado Maria, e a pena para ela teria sido a morte por apedrejamento.
* José era justo, sim! mas a sua justiça era diferente. Por antecipação ele já praticava o que Jesus haveria de ensinar mais tarde: “Se a justiça de vocês não ultrapassar a justiça dos escribas e fariseus, vocês não vão poder entrar no Reino dos Céus” (Mt 5,20). É por isso que José, não compreendendo os fatos e não querendo repudiar Maria, resolveu licenciá-la em segredo.
* Na Bíblia, a descoberta do apelo de Deus dentro dos fatos acontece de várias maneiras. Por exemplo, através de ruminação dos fatos (Lc 2,19.51), através da meditação da Bíblia (At 15,15-19; 17,2-3), através de anjos (a palavra anjo significa mensageiro), que ajudam a descobrir o significado dos fatos (Mt 28,5-7). José chegou a perceber o significado do que estava acontecendo em Maria através de um sonho. No sonho um anjo usou a Bíblia para esclarecer a origem da gravidez de Maria. Ela vinha da ação do Espírito de Deus.
* Quando tudo ficou claro para Maria, ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra!” Quando tudo ficou claro para José, ele assumiu Maria como sua esposa, e foram morar juntos. Graças à justiça de José, Maria não foi apedrejada e Jesus continuou vivo no seio dela.
4) Para um confronto pessoal
1) Aos olhos dos escribas, a justiça de José seria uma desobediência. Existe mensagem nisto para nós?
2) Como você descobre o apelo da Palavra de Deus dentro dos fatos da sua vida?
5) Oração final
Ele libertará o pobre que invoca
e o indigente que não acha auxílio;
terá piedade do fraco e do pobre,
e salvará a vida de seus indigentes. (Sal 71, 12-13)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
19 de dezembro
1) Oração
Ó Deus, que revelastes ao mundo o esplendor da vossa glória
pelo parto virginal de Maria,
dai-nos venerar com fé pura
e celebrar sempre com amor sincero
o mistério tão profundo da encarnação
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 1, 5-25)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - 5Nos tempos de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote por nome Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente de Aarão, chamava-se Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus e observavam irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7Mas não tinham filho, porque Isabel era estéril e ambos de idade avançada. 8Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe, 9coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o perfume. 10Todo o povo estava de fora, à hora da oferenda do perfume. 11Apareceu-lhe então um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do perfume. 12Vendo-o, Zacarias ficou perturbado, e o temor assaltou-o. 13Mas o anjo disse-lhe: Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração: Isabel, tua mulher, dar-te-á um filho, e chamá-lo-ás João. 14Ele será para ti motivo de gozo e alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento; 15porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida fermentada, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo; 16ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus, 17e irá adiante de Deus com o espírito e poder de Elias para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto. 18Zacarias perguntou ao anjo: Donde terei certeza disto? Pois sou velho e minha mulher é de idade avançada. 19O anjo respondeu-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e te trazer esta feliz nova. 20Eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas acontecerem, visto que não deste crédito às minhas palavras, que se hão de cumprir a seu tempo. 21No entanto, o povo estava esperando Zacarias; e admirava-se de ele se demorar tanto tempo no santuário. 22Ao sair, não lhes podia falar, e compreenderam que tivera no santuário uma visão. Ele lhes explicava isto por acenos; e permaneceu mudo. 23Decorridos os dias do seu ministério, retirou-se para sua casa. 24Algum tempo depois Isabel, sua mulher, concebeu; e por cinco meses se ocultava, dizendo: 25Eis a graça que o Senhor me fez, quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentre os homens.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje traz a visita do anjo Gabriel a Zacarias (Lc 1,5-25). O evangelho de amanhã vai trazer a visita do mesmo anjo Gabriel a Maria (Lc 1,26-38). Lucas coloca as duas visitas uma ao lado da outra, para que nós, lendo os dois textos com atenção, percebamos as pequenas e significativas diferenças entre uma e outra visita, entre o Antigo e o Novo Testamento. Procure e descubra as diferenças entre as visitas do anjo Gabriel a Zacarias e a Maria através das seguintes perguntas: Onde o anjo aparece? A quem aparece? Qual o anúncio? Qual a resposta? Qual a reação da pessoa visitada depois da visita? Etc.
* A primeira mensagem do anjo de Deus a Zacarias é: “Não ter medo!” Até hoje, Deus ainda causa medo em muita gente e até hoje a mensagem continua válida a mensagem: “Não ter medo!” Em seguida, o anjo diz: “Tua oração foi ouvida!” Na vida, tudo é fruto de oração!
* Zacarias representa o Antigo Testamento. Ele crê, mas sua fé está fraca. Depois da visita, ele fica mudo, incapaz de comunicar-se com as pessoas. A economia anterior, revelada em Zacarias, estava no fim das suas capacidades, tinha esgotado os seus recursos. A nova economia de Deus estava para chegar em Maria.
* No anúncio do anjo transparece a importância da missão do menino que vai nascer e cujo nome será João: “Ele não beberá vinho, nem bebida fermentada e, desde o ventre materno, ficará cheio do Espírito Santo”, isto é, João será uma pessoa inteiramente consagrada a Deus e à sua missão. “Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto.", isto é, no menino João acontecerá o esperado retorno do profeta Elias que deverá vir realizar a reconstrução da vida comunitária: converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos.
* De fato, a missão de João foi muito importante. Para o povo ele era um profeta (Mc 11,32). Muitos anos depois, lá em Éfeso, Paulo ainda encontrou pessoas que tinham sido batizados no batismo de João (At 19,3)
* Quando Isabel, depois de velha, concebeu e ficou grávida, ela se escondeu por cinco meses. Maria, ao contrário em vez de se esconder saiu de casa e foi servir.
4) Para um confronto pessoal
1) O que mais chama a sua atenção nesta visita do anjo Gabriel a Zacarias?
2) Converter o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais, isto é, reconstruir o tecido do relacionamento humano na base e refazer a vida em comunidade. Esta era a missão de João. Foi também a missão de Jesus e continua sendo a missão mais importante hoje. Como eu contribuo nesta missão?
5) Oração final
És tu, Senhor, a minha esperança,
és minha confiança, Senhor, desde a minha juventude.
Sobre ti me apoiei desde o seio materno,
desde o colo de minha mãe és minha proteção. (Sal 70, 5-6)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
20 de dezembro
1) Oração
Senhor Deus, ao anúncio do Anjo,
a Virgem imaculada acolheu vosso Verbo inefável
e, como habitação da divindade,
foi inundada pela luz do Espírito Santo.
Concedei que a seu exemplo,
abracemos humildemente a vossa vontade.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 1, 26-38)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - 26No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. 28Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. 29Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. 30O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. 32Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, 33e o seu reino não terá fim. 34Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? 35Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, 37porque a Deus nenhuma coisa é impossível. 38Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.
3) Reflexão
* A visita do ano a Maria evoca as visitas de Deus a várias mulheres do Antigo Testamento: Sara, mãe de Isaque (Gn 18,9-15), Ana, mãe de Samuel (1 Sam 1,9-18), a mãe de Sansão (Jz 13,2-5). A todas elas foi anunciado o nascimento de um filho com missão importante na realização do plano de Deus.
* A narração começa com a expressão “No sexto mês”. É o sexto mês da gravidez de Isabel. A necessidade concreta de Isabel, uma senhora já de idade que vai ter o seu primeiro filho com parto de risco, é o pano de fundo de todo este episódio. Ela é mencionada no começo (Lc 1,26) e no fim da visita do anjo (Lc 1,36.39).
* O anjo diz: “Alegra-te! Cheia de graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes foram ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12) e a outras pessoas com missão importante no plano de Deus. Maria estranha a saudação e procura saber o significado daquelas palavras. Ela é realista. Quer entender. Não aceita qualquer inspiração.
* O anjo responde: “Não tenha medo, Maria!” Como na visita do anjo a Zacarias, também aqui a primeira saudação de Deus é sempre: ”Não ter medo!” Em seguida, o anjo recorda as promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer e que deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará o Reino de Deus. Esta é a explicação do anjo para Maria não ficar assustada.
* Maria tem consciência da missão que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição. Ela analisa a oferta a partir dos critérios que tem à sua disposição. Humanamente falando, não era possível: “Como pode ser isto, se eu não conheço homem algum?”
* O anjo explica que o Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. O milagre se repete até hoje. Quando a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres, algo novo acontece pela força do mesmo Espírito Santo! Algo tão novo e surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou um filho nascer de uma senhora já de idade como Isabel, da qual todo mundo dizia que ela não podia ter neném! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!”
* A resposta do anjo clareou tudo para Maria, e ela se entrega: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Maria usa para si o título de Serva, empregada do Senhor. Este título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos (Is 42,1-9; 49,3-6). Mais tarde, Jesus também definirá sua missão como um serviço: “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mt 20,28). Aprendeu da Mãe!
4) Para um confronto pessoal
1) O que mais chama a sua atenção na visita do anjo Gabriel a Maria?
2) Jesus elogiou sua mãe quando disse: “Feliz quem ouve a Palavra e a põe em prática” (Lc 11,28). Como Maria se relacionou com a Palavra de Deus durante a visita do Anjo?
5) Oração final
Do Senhor é a terra e o que nela existe,
o mundo e seus habitantes;
ele próprio fundou-a sobre os mares
e afirmou-a sobre os rios. (Sal 23)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
21 de dezembro
1) Oração
Ouvi com bondade, ó Deus,
as preces do vosso povo,
para que, alegrando-nos hoje
com a vinda do vosso Filho em nossa carne,
alcancemos o prêmio da vida eterna,
quando ele vier na sua glória.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Luca 1, 39-45)
39 Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. 40 Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. 42 Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43 Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? 44 Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. 45 Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”.
3) Reflexão
* Lucas acentua a prontidão de Maria em servir, em ser serva. O anjo falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta apressadamente para ir ajudá-la. De Nazaré até a casa de Isabel são bem mais de 100 quilômetros , quatro dias de viagem, no mínimo! Não havia ônibus nem trem. Maria começa a servir e cumprir sua missão a favor do povo de Deus.
* Isabel representa o Antigo Testamento que estava terminando. Maria representa o Novo que está começando. O Antigo Testamento acolhe o Novo com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar a expectativa do povo. No encontro das duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito. A criança estremece de alegria no seio de Isabel. Esta é a leitura de fé que Isabel faz das coisas da vida.
* A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar mutuamente. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: é nisto que Lucas quer que as comunidades e nós todos percebamos e descubramos a presença de Deus.
* Isabel diz a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” Até hoje, estas palavras fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado no mundo inteiro, que é a Ave Maria.
* "Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer". É o elogio de Isabel a Maria e o recado de Lucas para as comunidades: crer na Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus tem força para realizar tudo aquilo que ela nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio da virgem, no seio do povo pobre que a acolhe com fé.
* Maria e Isabel já eram conhecidas uma da outra. E no entanto, neste encontro, elas descobrem, uma na outra, um mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria. Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem com a sabedoria que possuem e com o testemunho de fé que elas nos dão. Algo parecido já aconteceu com você? Já encontrou pessoas que te surpreenderam? O que nos impede de descobrir e de viver a alegria da presença de Deus em nossa vida?
* A atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal que Lucas quer comunicar às Comunidades: não fechar-se sobre si mesma, mas sair de si, sair de casa, e estar atenta às necessidades bem concretas das pessoas e procurar ajudar os outros na medida das necessidades.
4) Para um confronto pessoal
1) Colocando-me na posição de Maria e Isabel: sou capaz de perceber e experimentar a presença de Deus nas coisas simples e comuns da vida de cada dia?
2) O elogio de Isabel para Maria: “Você acreditou!” O marido dela teve problema em crer no que o anjo lhe dizia. E eu?
5) Oração final
Nossa alma espera pelo Senhor,
é ele o nosso auxílio e o nosso escudo.
Nele se alegra o nosso coração
e confiamos no seu santo nome. (Sal 32, 20-21)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
22 de dezembro
1) Oração
Deus de misericórdia,
vendo o homem entregue à morte,
quisestes salvá-lo pela vinda do vosso Filho;
fazei que, ao proclamar humildemente o mistério da encarnação,
entremos em comunhão com o Redentor.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 1, 46-56)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 46Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor, 47meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, 49porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. 50Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. 51Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. 52Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. 53Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. 54Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre. 56Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.
3) Reflexão
* O cântico de Maria era um dos cânticos das comunidades dos primeiros cristãos. Ele revela o nível de consciência e a firmeza da fé que as animava por dentro. Cantado nas Comunidades, este cântico de Maria ensina como rezar e cantar.
* Lucas 1,46-50: Maria começa proclamando a mudança que aconteceu em sua própria vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso, ela canta feliz: "Exulto de alegria em Deus, meu Salvador".
* Lucas 1,51-53: Em seguida ela canta a fidelidade de Deus para com seu povo e proclama a mudança que o braço do Senhor estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão "braço de Deus" lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora e libertadora de Javé que faz acontecer as mudanças: ela dispersa os orgulhosos (Lc 1,51), destrona os poderosos e eleva os humildes (Lc 1,52), manda os ricos embora sem nada e aos famintos enche de bens (Lc 1,53).
* Lucas 1,54-55: No fim, Maria lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão da sua fidelidade às promessas feitas a Abraão. A Boa Nova veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às suas promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos Gálatas e aos Romanos.
4) Para um confronto pessoal
1) O cânticos são o termômetro da vida das comunidades. Revelam o grau de consciência e de compromisso. Examine os cânticos da sua comunidade.
2) Analise a consciência social que transparece no cântico de Maria. No século XX depois de Cristo este canto foi censurado como subversivo pelos militares de um país na América Latina.
5) Oração final
Levanta do pó o necessitado
e do monturo ergue o indigente:
dá-lhe assento entre os príncipes,
destina-lhe um trono de glória. (1Sam 2, 8)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
23 de dezembro
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso,
ao aproximar-nos do natal do vosso Filho,
concedei-nos obter a misericórdia do Verbo,
que se encarnou no seio da Virgem
e quis viver entre nós
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 1, 57-66)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - 57Completando-se para Isabel o tempo de dar à luz, teve um filho. 58Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe manifestara a sua misericórdia, e congratulavam-se com ela. 59No oitavo dia, foram circuncidar o menino e o queriam chamar pelo nome de seu pai, Zacarias. 60Mas sua mãe interveio: Não, disse ela, ele se chamará João. 61Replicaram-lhe: Não há ninguém na tua família que se chame por este nome. 62E perguntavam por acenos ao seu pai como queria que se chamasse. 63Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu nela as palavras: João é o seu nome. Todos ficaram pasmados. 64E logo se lhe abriu a boca e soltou-se-lhe a língua e ele falou, bendizendo a Deus. 65O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos; o fato divulgou-se por todas as montanhas da Judéia. 66Todos os que o ouviam conservavam-no no coração, dizendo: Que será este menino? Porque a mão do Senhor estava com ele.
3) Reflexão
* Nos capítulos 1 e 2 do seu evangelho, Lucas descreve o anúncio e o nascimento de dois meninos, João e Jesus, que vão ocupar um papel importante na realização do projeto de Deus. O que Deus iniciou no AT começa a ser realizado por meio deles. Por isso, nestes dois capítulos, Lucas evoca muitos fatos e pessoas do AT e ele chega a imitar o estilo do AT. É para sugerir que com o nascimento destes dois meninos a história faz a grande curva e inicia a realização das promessas de Deus por meio de João e de Jesus e com a colaboração dos pais Isabel e Zacarias e Maria e José.
* Existe certo paralelismo entre o anúncio e o nascimento dos dois meninos:
1. O anúncio do nascimento de João (Lc 1,5-25) e de Jesus (Lc 1,26-38)
2. As duas mães grávidas se encontram e experimentam a presença de Deus (Lc 1,27-56)
3. O nascimento de João (Lc 1,57-58) e de Jesus (Lc 2,1-20)
5. O canto de Zacarias (Lc 1,67-79) e o canto de Simeão com a profecia de Ana (Lc 2,29-32)
* Lucas 1,57-58: Nascimento de João Batista
“Completou-se para Isabel o tempo do parto e ela deu à luz um filho. Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido bom para Isabel, e se alegraram com ela”. Como tantas mulheres do AT, Isabel era estéril: Como Deus teve piedade de Sara (Gn 16,1; 17,17; 18,12), de Raquel (Gn 29,31) e de Ana (1Sam 1,2.6.11) transformando a esterilidade em fecundidade, assim Ele teve piedade de Isabel, e ela concebeu um filho. Grávida, Isabel escondeu-se durante cinco meses. Quando, depois de cinco meses, o povo pôde verificar no corpo dela como Deus tinha sido bom para Isabel, todos se alegraram com ela. Este ambiente comunitário em que todos se envolvem com a vida dos outros, tanto na alegria como na dor, é o ambiente em que João e Jesus nasceram, cresceram e receberam a sua formação. Um ambiente assim marca a personalidade das pessoas pelo resto da sua vida. É este ambiente comunitário que mais nos falta hoje.
* Lucas 1,59: Dar o nome no oitavo
“No oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias”. O envolvimento da comunidade na vida da família de Zacarias, Isabel e João é tanto que os parentes e vizinhos chegam a interferir até na escolha do nome do menino. Querem dar ao menino o nome do pai: Zacarias!” Zacarias quer dizer: Deus se lembrou. Talvez quisessem expressar a gratidão a Deus por Ele ter se lembrado de Isabel e de Zacarias e por ter-lhes dado um filho na velhice.
* Lucas 1,60-63: O nome dele será João!
Mas Isabel intervém e não permite os parentes tomarem a dianteira na questão do nome. Lembrando o anúncio do nome pelo anjo a Zacarias (Lc 1,13), ela diz: "Não! Ele vai se chamar João". Num lugar pequeno como Ain Karem na serra da Judéia, o controle social é muito forte. E quando uma pessoa sai fora dos costumes normais do lugar, ela é criticada. Isabel não seguiu os costumes do lugar e escolheu um nome fora dos padrões normais. Por isso, os parentes e vizinhos reclamam: "Você não tem nenhum parente com esse nome!" Os parentes não cedem com facilidade e fazem sinais ao pai para saber dele como quer que o menino seja chamado. Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: "O nome dele é João." Todos ficaram admirados, pois deviam ter percebido algo do mistério que Deus que envolvia o nascimento do menino.
É esta percepção que o povo teve do mistério de Deus presente nos fatos tão comuns da vida, que Lucas quer comunicar a nós, seus leitores e leitoras. Na sua maneira de descrever os acontecimentos, Lucas não é como o fotógrafo que só registra o que os olhos podem ver. Ele é como quem usa o Raio-X que registra aquilo que os olhos não podem ver. Lucas lê os fatos com o Raio-X da fé que revela o que o olhar comum não percebe.
* Lucas 1,64-66: A notícia do menino se espalha
“No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judéia. E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: "O que será que esse menino vai ser?" De fato, a mão do Senhor estava com ele”. A maneira de Lucas descrever os fatos evoca as circunstâncias do nascimento de pessoas que no AT tiveram um papel importante na realização do projeto de Deus e cuja infância já parecia marcada pelo destino privilegiado que iam ter: Moisés (Ex 2,1-10), Sansão (Jz 13,1-4 e 13,24-25), Samuel (1Sam 1,13-28 e 2,11).
* Quanto mais conhecimento você conseguir acumular do Antigo Testamento, mais evocações vai descobrir nos escritos de Lucas. Os dois primeiros capítulos do seu Evangelho não são histórias no sentido em que nós hoje entendemos a história. Funcionam mais como espelho para ajudar os leitores e leitoras a descobrir que João e Jesus tinham vindo realizar as profecias do Antigo Testamento. Lucas quer mostrar como Deus, através dos dois meninos, veio atender às mais profundas aspirações do coração humano. De um lado, Lucas mostra que o Novo realiza o que o Antigo prefigurava. De outro lado, ele mostra que o novo ultrapassa o antigo e não corresponde em tudo ao que o povo do Antigo Testamento imaginava e esperava. Na atitude de Isabel e Zacarias, de Maria e José, Lucas apresenta um modelo de como se converter e acreditar no Novo que está chegando.
4) Para um confronto pessoal
1) O que mais me cativou na maneira de Lucas descrever os fatos da vida?
2) Como leio os fatos da minha vida? Como fotografia ou como raio-X?
5) Oração final
Eis que estou à porta e bato:
se alguém ouvir a minha voz, e abrir,
eu entrarei e cearemos juntos. (Ap 3, 20)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
24 de dezembro
1) Oração
Apressai-vos,
e não tardeis, Senhor Jesus,
para que a vossa chegada renove as forças
dos que confiam em vosso amor.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 1, 67-79)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 67Zacarias, o pai de João, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou, nestes termos: 68Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo, 69e suscitou-nos um poderoso Salvador, na casa de Davi, seu servo 70(como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante os seus santos profetas), 71para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam. 72Assim exerce a sua misericórdia com nossos pais, e se recorda de sua santa aliança, 73segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de nos conceder que, sem temor, 74libertados de mãos inimigas, possamos servi-lo 75em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias da nossa vida. 76E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho, 77para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados. 78Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente, 79que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.
3) Reflexão
* O Cântico de Zacarias é um dos muitos cânticos e refrões das comunidades dos primeiros cristãos, que até hoje estão espalhados pelos escritos do Novo Testamento: nos evangelhos (Lc 1,46-55; Lc 2,14; 2,29-32), nas cartas paulinas (1Cor 13,1-13; Ef 1,3-14; 2,14-18; Filp 2,6-11; Col 1,15-20) e no Apocalipse (1,7; 4,8; 11,17-18; 12,10-12; 15,3-4; 18,1 até 19,8). Estes cânticos nos dão uma idéia de como eram a vivência da fé e a liturgia semanal naqueles primeiros tempos. Eles deixam entrever uma liturgia que era, ao mesmo tempo, celebração do mistério, profissão de fé, animação da esperança e catequese.
* Aqui no Cântico de Zacarias, os membros daquelas primeiras comunidades, quase todos judeus, cantam a alegria de terem sido visitados pela bondade de Deus que, em Jesus, veio realizar as promessas. O Cântico tem uma estrutura bonita, bem elaborada. Parece uma lenta subida que leva os fiéis até o alto da montanha, de onde observam o caminho percorrido desde Abraão (Lc 1,68-73), experimentam o começo da realização das promessas (Lc 1,74-75) e de onde olham para frente prevendo o caminho a ser percorrido pelo menino João até o nascimento de Jesus, o Sol da justiça, que virá preparar para todos o caminho da Paz (Lc 76-79).
* Zacarias começa louvando a Deus por Ele ter visitado e redimido o seu povo (Lc 1,68) e ter realizado uma salvação poderosa na casa de Davi seu servo (Lc 1,69) conforme havia prometido pelos profetas (Lc 1,70). E ele descreve em que consiste esta salvação poderosa: na “libertação dos nossos inimigos e de todos que nos têm ódio” (Lc 1,71). Esta salvação é o resultado, não do esforço nosso, mas sim da bondade misericordiosa do próprio Deus que se lembrou da sua aliança sagrada e do juramento que tinha feito a Abraão, nosso pai (Lc 1,72). Deus é fiel. Este é o fundamento da nossa segurança.
* Em seguida, Zacarias descreve em que consiste o juramento de Deus a Abraão: é a esperança de “que, libertos dos inimigos, possamos viver sem medo, em santidade e justiça na presença de Deus, todos os dias da nossa vida”. Este era o grande desejo do povo daquele tempo e continua sendo o grande desejo de todos os povos de todos os tempos: viver em paz, sem medo, servindo a Deus e ao próximo, em santidade e justiça, todos os dias da nossa vida. Este é o alto da montanha, o ponto de chegada, que apareceu no horizonte com o nascimento de João (Lc 1,73-75).
* Agora, a atenção do cântico se dirige para João, o menino que acabou de nascer. Ele será o profeta do Altíssimo, pois irá à frente do Senhor para preparar-lhe o caminho e anunciar ao povo o conhecimento da salvação pelo perdão dos pecados (Lc 1,76-77). Aqui temos uma alusão clara à profecia messiânica de Jeremias que dizia: “Ninguém mais precisará ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: "Procure conhecer a Javé". Porque todos, grandes e pequenos, me conhecerão, oráculo de Javé, pois vou perdoar suas culpas e não me lembrarei mais de seus pecados” (Jer 31,34). Na Bíblia, “conhecer” é sinônimo de “experimentar”. É o perdão e a reconciliação que nos fazem experimentar a presença de Deus.
* Tudo isso será fruto da ação misericordiosa do coração do nosso Deus e se realizará plenamente com a vinda de Jesus, o sol que virá do alto para iluminar todos que estão nas trevas e na sombra da morte e guiar nossos passos no caminho da Paz (Lc 1,78-79).
4) Para um confronto pessoal
1) Às vezes é bom ler o cântico como se fosse pela primeira vez para poder descobrir nele toda a novidade da Boa Nova de Deus.
2) Você já experimentei alguma vez a bondade de Deus? Você já experimentou alguma vez o perdão de Deus?
5) Oração final
Vou cantar para sempre a bondade do Senhor;
anunciarei com minha boca sua fidelidade de geração em geração.
Pois disseste: “Minha bondade está de pé para sempre. (Sal 88, 2-3)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
26 de dezembro – Santo Estêvão
1) Oração
Ensinai-nos, ó Deus, a imitar o que celebramos,
amando os nossos próprios inimigos,
pois festejamos santo Estêvão, vosso primeiro mártir,
que soube rezar por seus perseguidores.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 10, 17-22)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: 17 Cuidado com os homens, porque eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas. 18 Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos. 19 Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer. 20 Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós. 21 O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão. 22 Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.
3) Reflexão
* O contraste é grande. Ontem, dia de Natal, foi o presépio do recém nascido com o canto dos anjos e a visita dos pastores. Hoje é o sangue derramado de Estevão, apedrejado até a morte, porque teve a coragem de crer na promessa expressa na simplicidade do presépio. Estevão criticou a interpretação fundamentalista da Lei de Deus e o monopólio do Templo. Por isso foi morto por eles (At 6,13-14).
* Hoje, na festa de Estevão, primeiro mártir, a liturgia traz um trecho do evangelho de Mateus (Mt 10,17-22), tirado do assim chamado Sermão da Missão (Mt 10,5-42). Nele Jesus adverte os seus discípulos dizendo que a fidelidade ao evangelho traz dificuldades e perseguição: “eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles”. Mas para Jesus o que importa na perseguição não é o lado doloroso do sofrimento, mas sim o lado positivo do testemunho: “Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações”. A perseguição é uma oportunidade para dar testemunho da Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe.
* Foi o que aconteceu com Estevão. Ele deu testemunho da sua fé em Jesus até o último momento da sua vida. Na hora de morrer ele disse: “Vejo os céus abertos, e o Filho do Homem em pé à direita de Deus” (At 7,56). E ao cair morto debaixo das pedradas imitou Jesus gritando: “Senhor, não lhes leve em conta este pecado!” (At 7,60; Lc 23,34).
* Jesus tinha dito: “Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. Esta profecia de Jesus também se realizou em Estevão. Os seus adversários “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com o qual ele falava” (At 6,10). “Os membros do sinédrio tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo” (At 6,15). Estevão falava “repleto do Espírito Santo” (At 7,55). Por isso, a raiva dos outros era maior e o lincharam na hora.
* Até hoje acontece o mesmo. Em muitos lugares muita gente é arrastada diante dos tribunais e sabe dar respostas que superam em sabedoria aos sábios e entendidos (Lc 10,21).
4) Para um confronto pessoal
1) Colocando-se na posição de Estevão: você já sofreu alguma vez por causa da sua fidelidade ao Evangelho?
2) A simplicidade do presépio e a dureza do martírio vão de par em par na vida dos Santos e Santas e na vida de tantas pessoas que hoje são perseguidas até a morte por causa da sua fidelidade ao evangelho. Você conheceu de perto pessoas assim?
5) Oração final
Inclina para mim teu ouvido, vem depressa livrar-me.
Sê para mim o rochedo que me acolhe,
refúgio seguro, para a minha salvação.
Pois tu és minha rocha e meu baluarte,
pelo teu nome me diriges e me guias. (Sal 30, 3-4)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
27 de dezembro
SÃO JOÃO, APÓSTOLO E EVANGELISTA
1) Oração
Ó Deus, que pelo apóstolo São João
nos revelastes os mistérios do vosso Filho,
tornai-nos capazes de conhecer e amar
o que ele nos ensinou de modo incomparável.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (João 20, 2-8)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - No primeiro dia da semana, 2 Maria Madalena saiu correndo e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram! 3 Saiu então Pedro com aquele outro discípulo, e foram ao sepulcro. 4 Corriam juntos, mas aquele outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. 5 Inclinou-se e viu ali os panos no chão, mas não entrou. 6 Chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos postos no chão. 7 Viu também o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus. Não estava, porém, com os panos, mas enrolado num lugar à parte. 8 Então entrou também o discípulo que havia chegado primeiro ao sepulcro. Viu e creu.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje traz o trecho do Evangelho de João, que fala do Discípulo Amado. Provavelmente, escolheram este texto para ser lido e meditado no dia de hoje, festa de São João Evangelista, por causa da identificação espontânea que todos fazemos do discípulo amado com o apóstolo João. O curioso é que, em canto algum do evangelho de João, se diz que o discípulo amado é João. Mas desde o mais remoto início da Igreja sempre se insistiu na identificação dos dois. Porém, insistindo demais na semelhança entre os dois corremos o risco de perder um aspecto muito importante da mensagem do Evangelho a respeito do discípulo amado.
* No evangelho de João o discípulo amado representa a nova comunidade que nasce ao redor de Jesus. O Discípulo Amado está ao pé da Cruz junto com Maria, a mãe de Jesus (Jo 19,26). Maria representa o Povo da antiga aliança. No fim do primeiro século, época em que foi feita a redação final do Evangelho de João, havia o conflito crescente entre a sinagoga e a igreja. Alguns cristãos queriam abandonar o Antigo Testamento e ficar só com o Novo Testamento. Ao pé da Cruz Jesus diz: “Mulher, eis aí teu filho!” e ao discípulo amado: “Filho, eis aí tua mãe!” Os dois devem permanecer unidos, como mãe e filho. Separar o Antigo Testamento do Novo Testamento era naquele tempo o mesmo que hoje chamamos de separação entre fé (NT) e vida (AT).
* No evangelho de hoje, Pedro e o Discípulo Amado, alertados pelo testemunho de Maria Madalena, correm juntos para o Santo Sepulcro. O jovem é mais veloz que o velho e chega primeiro. Ele olha para dentro do sepulcro, observa tudo, mas não entra. Ele deixa Pedro entrar primeiro. Pedro entrou. É sugestiva a maneira como o evangelho descreve a reação dos dois homens diante do que ambos viram: “Então Pedro, que vinha correndo atrás, chegou também e entrou no túmulo. Viu os panos de linho estendidos no chão e o sudário que tinha sido usado para cobrir a cabeça de Jesus. Mas o sudário não estava com os panos de linho no chão; estava enrolado num lugar à parte. Então o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, entrou também. Ele viu e acreditou”. Ambos viram a mesma coisa, mas só se diz do Discípulo Amado que ele acreditou: “Depois entrou o discípulo: olhou e acreditou!” Por quê? Será que Pedro não acreditou?
* O discípulo amado tem um olhar diferente que percebe mais que os outros. Tem um olhar amoroso que percebe a presença da novidade de Deus. Na madrugada depois daquela noite de pescaria e depois da pesca milagrosa, é ele, o discípulo amado, que percebe a presença de Jesus e diz: “É o Senhor!” (Jo 21,7). Naquela ocasião, Pedro, alertado pela afirmação do discípulo amado também reconheceu e começou a enxergar. Pedro aprendeu do discípulo amado. Em seguida, Jesus perguntou três vezes; “Pedro, você me ama?” (Jo 21,15.16.17). Por três vezes, Pedro respondeu: “Tu sabes que eu te amo!” Depois da terceira vez, Jesus confiou as ovelhas aos cuidados de Pedro, pois neste momento também Pedro se tornou “Discípulo Amado”.
4) Para um confronto pessoal
1) Todos que acreditamos em Jesus somos hoje o Discípulo Amado. Será que tenho o mesmo olhar amoroso para perceber a presença de Deus e crer na sua ressurreição?
2) Separar o Antigo do Novo Testamento é o mesmo que separar Vida e Fé. Como faço e vivo isto?
5) Oração final
Os montes se derretem como cera diante do Senhor,
diante do Senhor de toda a terra.
Os céus anunciam a sua justiça
e todos os povos contemplam a sua glória. (Sal 96, 5-6)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
28 de dezembro - Santos Inocentes, mártires
1) Oração
Ó Deus,
hoje os santos inocentes proclamam vossa glória,
não por palavras, mas pela própria morte;
dai-nos também testemunhar com nossa vida
o que nossos lábios professam.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 2,13-18)
13Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: "Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo". 14José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. 15Ali ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: "Do Egito chamei o meu Filho". 16Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou muito furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, exatamente conforme o tempo indicado pelos magos. 17Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: 18"Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais.
3) Reflexão
* O Evangelho de Mateus, redigido em torno dos anos 80 e 90, tem a preocupação de mostrar que em Jesus se realizam as profecias. Muitas vezes se diz: “Isto aconteceu para que se realizasse o que diz a escritura....” (cf. Mt 1,22; 2,17.23; 4,14; 5,17; etc). É porque os destinatários do Evangelho de Mateus são as comunidades de judeus convertidos que viviam uma crise profunda de fé e de identidade. Depois da destruição de Jerusalém no ano 70, os fariseus eram o único grupo sobrevivente do judaísmo. Nos anos 80, quando eles começaram a se reorganizar, crescia a oposição entre judeus fariseus e judeus cristãos. Estes últimos acabaram sendo excomungados da sinagoga e separados do povo das promessas. A excomunhão tornou agudo o problema da identidade. Já não podiam mais freqüentar suas sinagogas. E vinha a dúvida: Será que erramos? Quem é o verdadeiro povo de Deus? Jesus é realmente o Messias?
* É para este grupo sofrido que Mateus escreve o seu evangelho como Evangelho da consolação para ajudá-los a superar o trauma da ruptura; como Evangelho da revelação para mostrar que Jesus é o verdadeiro Messias, o novo Moisés, no qual se realizam as promessas; como Evangelho da nova prática para ensinar o caminho de como alcançar a nova justiça, maior do que a justiça dos fariseus (Mt 5,20).
* No evangelho de hoje transparece esta preocupação de Mateus. Ele consola as comunidades perseguidas mostrando que Jesus também foi perseguido. Ele revela que Jesus é o Messias, pois por duas vezes insiste em dizer que as profecias nele se realizaram; e sugere ainda que Jesus seja o novo Moisés, pois como Moisés foi perseguido e teve que fugir. Ele aponta um novo caminho, sugerindo que devem fazer como os magos que souberam driblar a vigilância da Herodes e voltaram por um ouro caminho para casa.
4) Para um confronto pessoal
1) Herodes mandou matar as crianças de Belém. O Herodes de hoje continua matando milhões de crianças. Elas morrem de fome, de doença, de desnutrição, de aborto. Quem é hoje Herodes?
2) Mateus ajuda a superar a crise de fé e de identidade. Hoje, muitos vivem uma crise profunda de fé e de identidade. Como o Evangelho pode ajudar a superar esta crise?
5) Oração final
Nosso auxílio está no nome do Senhor,
que fez o céu e a terra. (Sal 123, 8)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
29 de dezembro
1) Oração
Ó Deus invisível e todo-poderoso,
que dissipastes as trevas do mundo
com a vinda da vossa luz,
volvei para nós o vosso olhar,
a fim de que proclamemos dignamente
a maravilhosa natividade de vosso Filho Unigênito.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 2, 22-35)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - 22Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, 23conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13,2); 24e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos. 25Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. 26Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor. 27Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo. E tendo os pais apresentado o menino Jesus, para cumprirem a respeito dele os preceitos da lei, 28tomou-o em seus braços e louvou a Deus nestes termos: 29Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. 30Porque os meus olhos viram a vossa salvação 31que preparastes diante de todos os povos, 32como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel. 33Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam. 34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, 35a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma.
3) Reflexão
* Os primeiros dois capítulos do Evangelho de Lucas, escrito na metade dos anos 80, não são história no sentido em que nós hoje entendemos a história. Funcionam muito mais como espelho, onde os cristãos convertidos do paganismo descobriam que Jesus tinha vindo realizar as profecias do Antigo Testamento e atender às mais profundas aspirações do coração humano. São também símbolo e espelho do que estava acontecendo entre os cristãos do tempo de Lucas. As comunidades vindas do paganismo tinham nascido das comunidades dos judeus convertidos, mas eram diferentes. O Novo não correspondia ao que o Antigo imaginava e esperava. Era "sinal de contradição" (Lc 2,34), causava tensões e era fonte de muita dor. Na atitude de Maria, imagem do Povo de Deus, Lucas apresenta um modelo de como perseverar no Novo, sem ser infiel ao Antigo.
* Nestes dois primeiros capítulos do evangelho de Lucas tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta, pois, finalmente, a misericórdia de Deus se revelou e, em Jesus, ele cumpriu as promessas feitas aos pais. E Deus as cumpriu em favor dos pobres, dos anawim, como Isabel e Zacarias, Maria e José, Ana e Simeão, os pastores. Estes souberam esperar pela sua vinda.
* A insistência de Lucas em dizer que Maria e José cumpriram tudo aquilo que a Lei prescreve evoca o que Paulo escreveu na carta aos Gálatas: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gal 4,4-5).
* A história do velho Simeão ensina que a esperança, mesmo demorada, um dia se realiza. Ela não se frustra nem se desfaz. Mas a forma de ela realizar-se nem sempre corresponde à maneira como a imaginamos. Simeão esperava o Messias glorioso de Israel. Chegando ao templo, no meio de tantos casais que trazem seus meninos ao templo, ele vê um casal pobre lá de Nazaré. É neste casal pobre com seu menino ele vê a realização da sua esperança e da esperança do povo: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel."
* No texto do evangelho deste dia, aparecem os temas preferidos de Lucas, a saber, uma grande insistência na ação do Espírito Santo, na oração e no ambiente orante, uma atenção contínua à ação e à participação das mulheres, e uma preocupação constante com os pobres e com a mensagem a ser dada aos pobres.
4) Para um confronto pessoal
1) Você seria capaz de perceber numa criança pobre a luz para iluminar as nações?
2) Você seria capaz de agüentar uma vida inteira esperando a realização da sua esperança?
5) Oração final
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira.
Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome,
anunciai dia após dia a sua salvação. (Sal 95, 1-2)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
30 de dezembro
1) Oração
Concedei, ó Deus todo-poderoso,
que o novo nascimento de vosso Filho como homem
nos liberte da antiga escravidão do pecado.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 2, 36-40)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 36Havia também uma profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser; era de idade avançada. 37Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde a sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e quatro anos não se apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações. 38Chegando ela à mesma hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém esperavam a libertação. 39Após terem observado tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, à sua cidade de Nazaré. 40O menino ia crescendo e se fortificava: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava nele.
3) Reflexão
* Nos primeiros dois capítulos de Lucas, tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta a misericórdia de Deus: os cânticos de Maria (Lc 1,46-55), de Zacarias (Lc 1,68-79), dos anjos (Lc 2,14), de Simeão (Lc 2,29-32). Finalmente, Deus chegou para cumprir suas promessas, e Ele as cumpre em favor dos pobres, dos anawim, dos que souberam perseverar e esperar pela sua vinda: Isabel, Zacarias, Maria, José, Simeão, Ana, os pastores.
* Os capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas são muito conhecidos, mas pouco aprofundados. Lucas escreve imitando os escritos do AT. É como se os primeiros dois capítulos do seu evangelho fossem o último capítulo do AT que abre a porta para a chegada do Novo. Estes dois capítulos são a dobradiça entre o AT e o NT. Lucas quer mostrar como as profecias estão se realizando. João e Jesus cumprem o Antigo e iniciam o Novo.
* Lucas 2,36-37: A vida da profetisa Ana
“Havia também uma profetisa chamada Ana, de idade muito avançada. Ela era filha de Fanuel, da tribo de Aser. Tinha-se casado bem jovem, e vivera sete anos com o marido. Depois ficou viúva, e viveu assim até os oitenta e quatro anos. Nunca deixava o Templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações”. Como Judite (Jd 8,1-6), Ana é viúva. Como Débora (Jz 4,4), ela é profetisa. Isto é, pessoa que comunica algo de Deus e que tem uma abertura especial para as coisas da fé a ponto de poder comunicá-las aos outros. Ana casou jovem, viveu em casamento durante sete anos, ficou viúva e continuou dedicada a Deus até oitenta e quatro anos. Hoje, em quase todas as nossas comunidades, no mundo inteiro, você encontra um grupo de senhoras de idade, muitas delas viúvas, cuja vida se resume em rezar e marcar presença nas celebrações e em servir ao próximo.
* Lucas 2,38: Ana e o menino Jesus
“Ela chegou nesse instante, louvava a Deus, e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. Chegou ao templo no momento em que Simeão abraçava o menino e conversava com Maria sobre o futuro do menino (Lc 2,25-35). Lucas sugere que Ana participou neste gesto. O olhar de Ana é um olhar de fé. Ela vê um menino nos braços de sua mãe, e descobre nele o Salvador do mundo.
* Lucas 2,39-40: A vida de Jesus em Nazaré
”Quando acabaram de cumprir todas as coisas, conforme a Lei do Senhor, voltaram para Nazaré, sua cidade, que ficava na Galiléia. O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Nestas poucas palavras, Lucas comunica algo do mistério da encarnação. “A Palavra de fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). O Filho de Deus tornou-se igual a nós em tudo e assumiu a condição de servo (Filp 2,7). Foi obediente até a morte e morte de cruz (Filp 2,8). Dos trinta e três anos que viveu entre nós, trinta foram vividos em Nazaré. Se você quiser saber como foi a vida do Filho de Deus durante os anos que ele viveu em Nazaré, procure conhecer a vida de qualquer nazareno daquele época, mude o nome, coloque Jesus e você terá a vida do Filho de Deus durante trinta dos trinta e três anos da sua vida, igual a nós em tudo, menos no pecado (Hb 4,15). Nestes trinta anos da sua vida, “o menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Em outro lugar Lucas afirma a mesma coisa com outras palavras. Ele diz que o menino “crescia em sabedoria, idade e tamanho diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Crescer em Sabedoria significa assimilar os conhecimentos, a experiência humana acumulada ao longo dos séculos: os tempos, as festas, os remédios, as plantas, as orações, os costumes, etc. Isto se aprende vivendo e convivendo na comunidade natural do povoado. Crescer em Tamanho significa nascer pequeno, crescer aos poucos e ficar adulto. É o processo de cada ser humano com suas alegrias e tristezas, descobertas e frustrações, raivas e amores. Isto se aprende vivendo e convivendo na família com os pais, os irmãos e irmãs, os tios, os parentes. Crescer em Graça significa: descobrir a presença de Deus na vida, a sua ação em tudo que acontece, a vocação, o chamado dele. A carta aos hebreus diz que: “Embora fosse filho de Deus, Jesus teve que aprender a ser obediente através dos seus sofrimentos” (Hb 4,8).
4) Para um confronto pessoal
1) Conhece pessoas como Ana, que tem um olhar de fé sobre as coisas da vida?
2) Crescer em sabedoria, tamanho e graça: como isto acontece em minha vida?
5) Oração final
Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome,
anunciai dia após dia a sua salvação.
Entre os povos narrai a sua glória,
entre todas as nações dizei seus prodígios. (Sl 95, 2-3)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
31 de dezembro
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso,
que estabelecestes o princípio e a plenitude de toda a religião
na encarnação do vosso Filho,
concedei que sejamos contados
entre os discípulos daquele
que é toda a salvação da humanidade.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (João 1, 1-18)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - 1No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio junto de Deus. 3Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. 5A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 6Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. 7Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9[O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. 10Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. 11Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, 13os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. 14E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade. 15João dá testemunho dele, e exclama: Eis aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim é maior do que eu, porque existia antes de mim. 16Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça. 17Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. 18Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou
3) Reflexão
* O Prólogo é a primeira coisa que se vê ao abrir o evangelho de João. Mas foi a última a ser escrita. É o resumo final, colocado no início. Nele João descreve a caminhada da Palavra de Deus. Ela estava junto de Deus desde antes da criação e por meio dela tudo foi criado. Tudo que existe é expressão da Palavra de Deus. Como a Sabedoria de Deus (Prov 8,22-31), a Palavra quis chegar mais perto de nós e se fez carne em Jesus. Viveu no meio de nós, realizou a sua missão e voltou para Deus. Jesus é esta Palavra de Deus. Tudo que ele diz e faz é comunicação que nos revela o Pai.
* Dizendo "No princípio era a Palavra", João evoca primeira frase da Bíblia que diz: "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Deus criou tudo por meio da sua Palavra. "Ele falou e as coisas começaram a existir" (Sl 33,9; 148,5). Todas as criaturas são uma expressão da Palavra de Deus. Esta Palavra viva de Deus, presente em todas as coisas, brilha nas trevas. As trevas tentam apagá-la, mas não conseguem. A busca de Deus, sempre de novo, renasce no coração humano. Ninguém consegue abafá-la. Não conseguimos viver sem Deus por muito tempo!
* João Batista veio para ajudar o povo a descobrir e saborear esta presença luminosa e consoladora da Palavra de Deus na vida. O testemunho de João Batista foi tão importante, que muita gente pensava que ele fosse o Cristo (Messias). (At 19,3; Jo 1,20) Por isso, o Prólogo esclarece dizendo: "João não era a luz! Veio apenas para dar testemunho da luz!"
* Assim como a Palavra de Deus se manifesta na natureza, na criação, da mesma maneira ela se manifesta no "mundo", isto é, na história da humanidade e, de modo particular, na história do povo de Deus. Mas o "mundo" não reconheceu nem recebeu a Palavra. Ela "veio para o que era seu, mas os seus não a receberam". Aqui, quando fala mundo, João quer indicar o sistema tanto do império como da religião da época, ambos fechados sobre si e, por isso mesmo, incapazes de reconhecer e de receber a Boa Nova (Evangelho) da presença luminosa da Palavra de Deus.
* Mas as pessoas que se abrem aceitando a Palavra, tornam-se filhos e filhas de Deus. A pessoa se torna filho ou filha de Deus não por mérito próprio, nem por ser da raça de Israel, mas pelo simples fato de confiar e crer que Deus, na sua bondade, nos aceita e nos acolhe. A Palavra entra na pessoa e faz com que ela se sinta acolhida por Deus como filha, como filho. É o poder da graça de Deus.
* Deus não quer ficar longe de nós. Por isso, a sua Palavra chegou mais perto ainda e se fez presente no meio de nós na pessoa de Jesus. O Prólogo diz literalmente: "A Palavra se fez carne e montou sua tenda no meio de nós!" Antigamente, no tempo do êxodo, lá no deserto, Deus vivia numa tenda no meio do povo (Ex 25,8). Agora, a tenda onde Deus mora conosco é Jesus, "cheio de graça e de verdade!" Jesus veio revelar quem é este nosso Deus que está presente em tudo, desde o começo da criação.
4) Para um confronto pessoal
1) Tudo que existe é uma expressão da Palavra de Deus, uma revelação da sua presença. Será que sou suficientemente contemplativo para poder perceber e experimentar esta presença universal da Palavra de Deus?
2) O que significa para mim poder ser chamado filho de Deus?
5) Oração final
Alegrem-se os céus, exulte a terra,
ressoe o mar e o que ele contém;
exulte o campo e o que ele encerra,
alegrem-se as árvores da floresta
diante do Senhor, pois ele vem,
ele vem julgar a terra. (Sal 95, 11-13)
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