LECTIO DIVINA
Domingo, 04 de março de 2012
2º Domingo da Quaresma – Ano B
Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim
Gl 20.20
TEXTO BÍBLICO: Marcos 9.2-10
9.2 Seis dias depois, Jesus foi para um monte alto, levando consigo somente Pedro, Tiago e João. Ali, eles viram a aparência de Jesus mudar.
9.3 A sua roupa ficou muito branca e brilhante, mais do que qualquer lavadeira seria capaz de deixar.
9.4 E os três discípulos viram Elias e Moisés conversando com Jesus.
9.5 Então Pedro disse a Jesus: — Mestre, como é bom estarmos aqui! Vamos armar três barracas: uma para o senhor, outra para Moisés e outra para Elias.
9.6 Pedro não sabia o que deveria dizer, pois ele e os outros dois discípulos estavam apavorados.
9.7 Logo depois, uma nuvem os cobriu, e dela veio uma voz, que disse: — Este é o meu Filho querido. Escutem o que ele diz!
9.8 Aí os discípulos olharam em volta e viram somente Jesus com eles.
9.9 Quando estavam descendo do monte, Jesus mandou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse.
9.10 Eles obedeceram à ordem, mas discutiram entre si sobre o que queria dizer essa ressurreição.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Perguntas para a leitura
• Quanto tempo transcorre desde o acontecimento anterior até à subida ao alto monte?
• Jesus sobe com quem?
• Quem aparece na cena?
• O que pode significar que Elias (grande profeta) e Moisés (grande legislador) estejam
conversando com Jesus?
• O que Pedro quer fazer? O que lhe diz Jesus?
• Que sentimento invade os discípulos?
• O que nos diz Marcos a respeito das palavras de Pedro? São coerentes?
• O que diz a “voz” do meio da nuvem?
• A quem é preciso obedecer e escutar?
• Os discípulos descobrem a “origem” da voz?
• O que Jesus ordena aos discípulos quando descem do monte?
• Até quando deverão manter segredo em torno do que viram e ouviram?
• Pedro, Tiago e João realmente entenderam o que significa “ressuscitar”?
Dicas para leitura
Queridos servidores da Palavra,
O segundo Domingo da Quaresma, todos os anos, faz-nos refletir sobre o mistério da
“transfiguração” de Jesus. Tal como no Batismo do Senhor, que partilhamos há algumas semanas,
este texto é uma “teofania”, ou seja, um relato de manifestação de Deus. Há vários elementos que
nos fazem perceber que estamos diante deste gênero literário: um alto monte, estar a sós, uma cor
branca e brilhante como ninguém na terra podia produzir, o grande profeta (Elias) e o grande
legislador (Moisés) falando com Jesus, a nuvem que se detém sobre eles e a voz que confirma o
Senhor como Filho amado do Pai.
Este texto de manifestação do Senhor está presente nos três evangelhos sinóticos sem grandes
diferenças entre um e outro relatos. Este ano partilhamos a narrativa de Marcos.
Jesus leva consigo três de seus discípulos mais íntimos: Pedro, Tiago e João, os mesmo que
estarão presentes por ocasião de vários de seus milagres, e os mesmos que o acompanharão quando
estiver no horto do Getsêmani.
Os especialistas da Bíblia estudam e confrontam as características do texto, procurando extrair
conjecturas no nível histórico. Não entraremos nesta questão. Assumindo parte destas reflexões,
perguntamo-nos de maneira mais simples e “produtiva”:
Que sentido teológico e espiritual tem o relato da transfiguração do Senhor?
A chave, vamos encontrá-la considerando o contexto deste texto particular. Alguns versículos
antes deste relato, em Mc 8,31-33, Jesus anuncia, pela primeira vez, com absoluta clareza, qual é a
sorte que lhe caberá:
Jesus fala de sua morte
31
E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do Homem padecesse muito, e que fosse
rejeitado pelos anciãos, e pelos príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas
que, depois de três dias, ressuscitaria.
32
E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte e começou a repreendê-lo.
33
Mas ele, virando-se e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-
te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são
dos homens.
Esta situação que Jesus narra e anuncia, obviamente desanimou os discípulos, que não podiam
entender como seu Mestre, Deus e Senhor “devia sofrer muito e morrer…”. Deste modo é que
Jesus, perante esta “crise” interior que eles padecem, dá-lhes a possibilidade de contemplar sua
glória e seu poder, glória de Filho de Deus, glória e poder de Deus… Tudo isto acontece na
experiência da transfiguração. Mesmo sabendo, como o próprio Jesus lhes disse, que ele iria sofrer e
morrer, agora sabem também (antes da ressurreição) que ele é o glorioso Filho de Deus que
contemplaram quando se transfigurou e se transformou de maneira deslumbrante no monte.
A transfiguração, assim entendida, transforma-se em um encontro antecipado com a glória de
Deus em Jesus de Nazaré antes de sua ressurreição depois da morte de cruz.
Para levar em conta: além do Segundo Domingo da Quaresma, a Liturgia da Igreja
apresenta-nos, ao longo de seu Ciclo Anual, outra data para refletir sobre o mistério
da transfiguração do Senhor: trata-se da Festa da Transfiguração, que se celebra no
dia 6 de agosto…
Outros textos bíblicos a serem comparados: Mt 17.1-8; Lc 9.28-36; Mc 5.37; Mc
14.40; Mc 16.5.
2 – MEDITAÇÃO
O que me diz? O que nos diz?
Perguntas para a meditação
• Sinto que Jesus me leva a um “monte alto” para estar a sós com ele?
• O que significa, para mim, hoje, o episódio global da transfiguração?
• Em minha vida, já experimentei que Jesus se transfigura, isto é, que me dá a conhecer seu
poder e sua glória como Deus e Senhor? Em que situações?
• Tenho “boa memória” da experiência da transfiguração ou enfatizo mais as experiências de
desolação?
• Percebo que a transfiguração hoje, em minha vida, pode dar-se através de uma forte
experiência de encontro com Jesus na oração e na vida sacramental?
• Onde estou parado hoje: no cume do encontro com Deus, no vale da desolação e do
sofrimento, ou na subida ao monte para o encontro com o Senhor?
• Tenho a tentação de Pedro de ficar-me no “ápice da experiência mística” da transfiguração e
não decidir-me a trazer esta experiência para a realidade de minha vida cotidiana? Busco
levar a experiência da oração para a vida de todos os dias?
• “Assusta-me” que Deus revele sua glória e seu poder perante minha pobre e pequena vida?
• Deixo que a “voz” do Pai confirme mil e uma vezes que Jesus é seu Filho amado e
predileto?
• Escuto e obedeço ao Filho amado e predileto do Pai?
• No caminho penitencial da Quaresma, que significa escutar Jesus contando-me que vai
ressuscitar?
3 – ORAÇÃO
O que lhe digo? O que lhe dizemos?
Uma forma de responder a Deus na oração desta Lectio Divina pode ser utilizar o prefácio da
missa do dia da Festa da Transfiguração (6 de agosto), que nos oferece um belo e conciso resumo
deste mistério tão importante na vida de Jesus.
Diz assim:
Na presença de testemunhas escolhidas,
Ele manifestou a sua glória e na sua humanidade,
em tudo semelhante à nossa, fez resplandecer a luz da sua divindade
para tirar do coração dos discípulos o escândalo da cruz
e mostrar que devia realizar-se no corpo da Igreja
o que de modo admirável resplandecia na sua cabeça.
4 – CONTEMPLAÇÃO
Como interiorizo a mensagem? Como interiorizamos a mensagem?
A contemplação é, em si mesma, um momento de transfiguração do Senhor diante do crente.
É captar com toda a sensibilidade da própria vida a força e o poder de Deus como algo realmente
presente e atuante.
Por isso, a proposta para a contemplação será dedicar um bom tempo para ir ao sacrário da
igreja de seu bairro ou cidade, para buscar ter um encontro com o Senhor transfigurado.
Deus antecipa a hora de sua Páscoa para que, de antemão, você possa gozar a força da
ressurreição.
Convém estar diante do sacrário em uma posição cômoda, em um momento em que não haja
demasiada gente e, a partir do profundo silêncio, captar a presença misteriosa do Senhor
transfigurado na Reserva Eucarística.
5 – AÇÃO
A que me comprometo? A que nos comprometemos?
Propostas pessoais
• Fazer uma “linha de vida”, uma “linha histórica pessoal”, anotando os principais
momentos de transfiguração individual, familiar, eclesial e social.
• Exercitar-se constantemente em trazer para a vida cotidiana o que foi meditado na
oração.
Propostas comunitárias
• Conversar em seu grupo de amigos lectionautas sobre a relação que se pode estabelecer
entre “mistério da transfiguração de Jesus” e “Lectio Divina”. Pensar em que medida a
dinâmica da Lectio Divina é ou não uma subida, mediante a leitura, a meditação e a oração,
ao ápice da contemplação e, a partir dali, uma descida à “ação” de todos os dias.
• Se o que precede for verdadeiro, ou seja, se pode estabelecer esta saudável relação, procurar
fazer um gráfico em um pôster ou em um quadro, para poder utilizá-lo no ensino da Lectio
Divina aos demais.
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