terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Coração Novo

"Cria em mim, ó Deus, um coração puro" (Sl 50, 12)
"A pureza do coração corresponde ao grau de amor e de graça de Deus; assim, quando o nosso Salvador chama bem-aventurados àqueles que têm o coração puro (Mt 5, 8), fala daqueles que estão cheios de amor, porque a beatitude nos é dada segundo o grau do nosso amor.

Aquele que ama verdadeiramente a Deus já não se envergonha diante do mundo por aquilo que faz para Deus, não se esconde com dificuldades, ainda que o mundo inteiro venha a condená-lo.
Aquele que ama verdadeiramente a Deus vê como um ganho e uma recompensa a perda de todas as coisas criadas, e até a própria perda de si próprio por amor a Deus.
Aquele que trabalha para Deus com um amor puro, não só não se perturba por ser visto pelos homens, como também não age de forma a ser visto por Deus.

É grande coisa exercitarmo-nos muito na prática do amor santo, porque a alma que atinge a perfeição do amor não tardará, seja nesta vida, seja na outra, a ver o rosto de Deus.
Aquele que tem o coração puro aproveita igualmente das honrarias e das humilhações para se tornar sempre mais puro, enquanto que o coração impuro disso só se serve para produzir ainda mais frutos de impureza.

O coração puro deposita em todas as coisas um saboroso conhecimento de Deus, casto, puro, espiritual, cheio de alegria e de amor." (São João da Cruz, Carmelita Descalço, Doutor da Igreja)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quaresma tempo de conversão

QUARESMA 2012
EM FAVOR DA FRATERNIDADE:
“ AMAR E SER AMADO” é o Caminho para a Felicidade
= Nas pegadas da Mensagem do Papa para a Quaresma 2012=
“A QUARESMA oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: O AMOR!
Este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitária de Fé.
Quaresma é “ um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal” (Q. 2012)
“AMAI-VOS UNS AOS OUTROS COMO EU VOS AMEI” (Jo. 15,12) e ver 1Jo.4,20)
“AMAR E SER AMADOS” são as DUAS ASAS no caminho para a Felicidade.
= A QUESTÃO:
Quem é o “outro” na minha vida? É meu irmão/a; amigo/a; família/comunidade;
a minha Igreja e clube; o que é bênção para mim e o que precisa de mim; o que desafia a minha vida para crescer, ser melhor até chegar ao “Outro”; aquele de quem não gosto tanto e com quem estou em conflito; o que é sorriso de Deus, face de Deus para mim;
o outro é um Mistério, É JESUS para mim!
= Ser ou não ser “guarda do meu irmão”: Caim diz “NÃO” (Gn.4,8-9).
Jesus diz “SIM”…até dar a vida pelo irmão!
= CUIDAR DO IRMÃO com amor, empatia, carinho, compaixão, generosidade, atenção, perdão…é o desfio para esta Quaresma de 2012.
= O CONVITE em tempo de “austeridade e crise”:
“O mundo actual sofre sobretudo de falta de Fraternidade. “O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem dos recursos do universo” Paulo VI (Populorum progressio, 66)” (Q.2012)
Heb. 10,24: “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. Somos chamados a procurar o bem do outro.
=Como?
a)Ter mais zelo pelos outros; b)Olhar para o rosto do outro; c) Ir ao encontro do outro; d)Prestar mais atenção aos outros”; e) “Ter misericórdia” do outro; f)Assumir a responsabilidade pelo outro; g)Amar mais os outros em reciprocidade; h) Ser responsável pelo outro.
=A Que níveis?
1. No aspecto físico/material; 2. No aspecto moral/ emocional; 3. No aspecto espiritual;
4. No aspecto Vocacional em Ano Vocacional Comboniano…A minha vocação depende da “fidelidade” do outro e eu também sou responsável pela sua vocação.
= O CAMINHO:
“O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais:
À (1.) firmeza da fé junta-se a (2.) persistência da Esperança e a (3.) primazia da Caridade” (Q.2012). A Fé vive-se na Caridade para a Esperança (Tiago,2, 14-24).
“Correcção fraterna” para construir relação-comunhão com o outro “neste mundo impregnado de individualismo” (Q.2012). Corrigir e aceitar correcção era caminho de crescimento na Igreja dos primeiros tempos, pois assim Jesus tinha ensinado (cf. Mt.18,15). Uma das obras de misericórdia da Igreja é “corrigir os que erram” fazendo-o com compreensão, compaixão, amor que procura o bem.
Não devemos ficar calados perante o mal. “ O silêncio dos bons” é mais perigoso do que o alarido dos que fazem mal.
Caminhar juntos na Santidade, para nos estimularmos ao amor e às boas obras até “formar o Corpo místico de Cristo, a Igreja-Comunhão através da Eucaristia” (Q.2012)
= QUE FAZER CONCRETAMENTE? Dizem as Igrejas…
=BRAGA- D.Jorge Ortiga:
RENUNCIAR à “exibição”, ao “medo”, ao “lucro”, à “idolatria”, à “vergonha”, ao ruído”… para “retomar a comunhão e anunciar a alegria”.
PARTILHAR com o fundo diocesano: “Partilhar com Esperança”.
CRIAR “ a cultura do partilhar” na “solicitude pela juventude” com propostas capazes de os “seduzir para um encontro com Cristo” deixando-se “enamorar pela Palavra”.
BRAGA é Capital Europeia da Juventude e GUIMARÃES a Capital Europeia da Cultura.
= AVEIRO- D. Antonio Francisco Santos :
Cuidar dos idosos…”Neste Ano Europeu do Envelhecimento Activo…olhar os idosos como dom de vida e de bênção e como uma escola de sabedoria onde o futuro já começou e diariamente se aprende”.
= PATRIARCADO DE LISBOA- D. José Policarpo:
Alimentar a ESPERANÇA em tempo de crise. Em tempo de crise muitas vozes tentam suscitar “esperança”. A nossa Esperança é Teológica, é aquela que só é possível com a força do Espírito, que nos faz caminhar para a plenitude da vida em Cristo” .
Contribuir para o fundo diocesano “ Igreja Solidária” para os mais atingidos pela atual crise.
= SANTAREM – D. Manuel Pelino: “Páscoa propõe-nos uma forma rejuvenescida de viver a Fé! Felizes os que vão (1) Pele Palavra à Conversão (2) na Solidariedade em tempo de crise”.
Propõe retiro Quaresmal para todos; meditar mensagem do Papa; ajudar “Caritas” e Kirkut no Iraque.
QUE POSSO EU FAZER Pessoalmente?
= Rezar pelos que se sentam ao meu lado na Igreja e suas famílias
= Dizer “olá” aquele de quem não gosto e com quem estou zangado
= Ir ao encontro do que está só, doente, prisioneiro
= Reconciliar-me com Deus e os outros pelo Sacramento da Reconciliação
= Renunciar a algum gasto e dar para as missões…
Para Partilhar:
  1. Com que disposição interior vou/estou a viver esta Quaresma?
  2. Quais os aspectos que me interrogam a nível pessoal, social e religioso neste momento?
  3. Que decisão pessoal e comunitária estou pronto/a a assumir nesta Quaresma?
Reflexão proposta por P.Carlos Alberto Nunes, mccj

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim (Gl 20.20)

TEXTO BÍBLICO: Marcos 1.12-15

A tentação de Jesus

12E logo o Espírito o impeliu para o deserto, 13onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam.Jesus volta para a Galileia

14Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, s 15dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho

Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH)

1. LEITURA

Que diz o texto?

Pistas para leitura

Queridos jovens:

Como todos os anos, o primeiro Domingo do Tempo da Quaresma é dedicado a contemplar o mistério das “tentações” de Jesus. O relato aparece em Mt, Mc e Lc. O mais breve e conciso é o que nos toca este ano, no Ciclo B, o relato do evangelista Marcos. Em quatro versículos, sintetiza o que os outros evangelistas sinóticos desenvolvem em pouco mais de 11 (Mt) e em 13 (Lc) versículos.Considero que este ano, portanto, convém abordar o texto evangélico em sua totalidade, mais do que nos detalhes, dado que estes são mais reduzidos. Que afirmações podemos fazer, pois, sobre as tentações de Jesus?Em primeiro lugar, devemos levar em conta que a tentação não é um pecado. Jesus é Deus e, por conseguinte, não tem pecado; experimenta, em sua humanidade, a tentação, mas não sucumbe a ela. Há pessoas que confundem tentação e pecado. Isto é um erro. A tentação é perceber a ação de Satanás, que quer afastar do caminho de Deus, do bem e da verdade. O pecado é con-sentir, sucumbir à tentação…Em segundo lugar, devemos considerar que não é Deus quem tenta, mas sim, Satanás, o Diabo, o “pai da mentira”. Deus não tenta ninguém, visto que a tentação é causar o distanciamento de Deus e de seus desígnios. Por isso, que ninguém se confunda e pense ou diga que é tentado por Deus… A verdade é que Deus permite a “prova” ou a “cruz” em nossa vida. Isto é muito misterioso, e muitas vezes não se encontra explicação “racional” para a realidade da doença, das catástrofes, da morte e dos sofrimentos em geral. Contudo, se Deus permite a provação, não é para afastar-nos dele e de seus caminhos. Pelo ao contrário. Deus permite a prova em nossa vida para que sejamos fortalecidos em nosso caminho de fé…Em terceiro lugar, é preciso levar em conta que Jesus não foi somente tentado nesta ocasião particular que nos é relatada. Este texto é um momento prototípico das tentações de Jesus, que servem como modelo para a realidade de toda a sua vida. Muitas vezes e de diversas formas, ao longo de sua vida terrena, Jesus foi tentado por Satanás. De fato, no relato de Marcos, não nos é contado, como nos outros dois evangelhos sinóticos, quais foram as armadilhas de Satanás para afastar Jesus do caminho do Pai. Não conhecemos algumas das tentações do Senhor, visto que os evangelistas não puderam contar todos os acontecimentos da vida de Cristo, mas apenas alguns. Outras tentações aparecem nos textos evangélicos em mais de uma oportunidade: por exemplo, quando querem proclamá-lo rei, a partir de uma perspectiva terrena, social e política; quando querem que realize “milagres” segundo o gosto e a necessidade pontual de cada grupo e/ou pessoa; quando querem fazer com que baixe da cruz e demonstre que realmente é Deus etc.

Para levar em conta: O deserto tem, no Antigo Testamento e na literatura extrabíblica do povo da Antiga Aliança, uma simbologia multifacetada. Por um lado, é sinal do inóspito, difícil, “árido”, associado à falta de água e de vida. Por outro, é um lugar de encontro com Deus, pelo que comporta de busca do essencial, do mais importante. É o espaço da necessidade de purificação e de volta ao essencial que provoca no coração um lugar com estas características…

Outros textos bíblicos a serem comparados: Mt 4.1-11; Lc 4.1-13; Dt 8.1-2; Jo 13.2-27; Lc 22.3.53.

Para continuar o aprofundamento destes temas, pode-se consultar o índice temático da Bíblia de Estudo NTLH, o verbete: “Tentação”.

Perguntas para a leitura

·         Como começa o relato?

·         Quem conduz Jesus?

·         Para onde o conduz?

·         Quanto tempo Jesus permanece no deserto?

·         Com “quem” convive?

·         Que pretende fazer Satanás?

·         Descrevem-se as “armadilhas” de Satanás?

·         Quem “cuida” de Jesus?

·         O que faz Jesus depois da experiência do deserto? Para onde se dirige?

·         Que convite faz Jesus na Galileia?

·         Que implicações tem o voltar-se para Deus e acreditar na boa notícia?

·         Qual é o conteúdo da “boa notícia”?

2 – MEDITAÇÃO

O que me diz? O que nos diz?

Perguntas para a meditação

·         Deixo-me conduzir pelo Espírito de Deus?• Aonde me leva hoje o Espírito de Deus?

·         O que implica, para mim, o deserto?• Que tipos de “deserto” experimento em minha vida hoje? Que desertos vivi no passado? Que desertos posso vislumbrar em meu futuro?

·         Como reajo perante a realidade do deserto?

·         Quais são minhas tentações hoje? Quais sãos as armadilhas de Satanás para afastar-me do caminho?

·         Confundo tentação e pecado? Onde está a diferença?

·         Confundo tentação de Satanás com provação de Deus? Qual é a diferença?

·         Escuto Jesus, que neste começo da Quaresma de 2012 me anuncia uma vez mais “a boa nova do Reino”?

·         Que implica, para mim, hoje, voltar-me para Deus e converter-me de coração?• Creio realmente na boa notícia de Jesus?

3 – ORAÇÃO

O que lhe digo? O que lhe dizemos?

Para iluminar as respostas da oração, proponho-lhe um texto de Santo Agostino que comenta as tentações de Jesus, aplicando-as à vida dos discípulos:

Com efeito, nossa vida, enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigo e tentações…Portanto, o Senhor nos representou em sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás. Líamos há pouco no Evangelho que nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado pelo demônio no deserto. De fato, Cristo foi tentado pelo demônio. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque ele assumiu a tua condição humana, para te dar a sua salvação; assumiu a tua morte, para te dar a sua vida; assumiu os teus ultrajes, para te dar a sua glória; por conseguinte, assumiu as tuas tentações, para te dar a sua vitória.Se nele fomos tentados, nele também vencemos o demônio. Consideras que o Cristo foi tentado e não consideras que ele venceu? Reconhece-te nele em sua tentação, reconhece-te nele em sua vitória. O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer a tentação.Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo (Sl 60,2-3)

As reflexões de Santo Agostinho ajudam-nos a “conectar” vitalmente as tentações do Senhor às tentações de nossa vida cotidiana. Contudo, o acento não é posto na tentação, mas na vitória de Cristo sobre os ardis de Satanás. Esta vitória é garantia e segurança que vem de Deus para nós, em nossa lua contra o mal e contra o pecado.

4 – CONTEMPLAÇÃO

Como interiorizo a mensagem? Como interiorizamos a mensagem?

Para interiorizar a mensagem, pode-se contemplar a imagem do “deserto” na realidade de nossa vida, assumindo o compromisso de “vencer” a tentação com a graça de Deus em nossos corações.Proponho-lhe repetir algumas frases desta maneira:• No deserto de meus medos, quero, com tua graça, vencer a tentação…• No deserto do desalento, quero, com tua graça, vencer a tentação…• No deserto do da falta de esperança, quero, com tua graça, vencer a tentação…• No deserto de…• No deserto de…

5 – AÇÃO

A que me comprometo? A que nos comprometemos?

Propostas pessoais

·         Analisar as três possíveis tentações mais tangíveis de minha vida hoje.

·         Realizar um propósito real, concreto e verificável de crescimento espiritual no começo desta Quaresma, rechaçando a tentação com a graça do Senhor.

Propostas comunitárias

·         • Refletir em grupo sobre o sentido da Quaresma como caminho de preparação para a celebração da Páscoa de Jesus.

·         Dialogar em seu ambiente juvenil para detectar as “tentações” mais habituais dos jovens, tentando descobrir as causas e pensando nos possíveis caminhos de solução para superá-las.
Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim (Gl 20.20)

TEXTO BÍBLICO: Marcos 1.12-15

A tentação de Jesus

12E logo o Espírito o impeliu para o deserto, 13onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam.Jesus volta para a Galileia

14Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, s 15dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho

Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH)

1. LEITURA

Que diz o texto?

Pistas para leitura

Queridos jovens:

Como todos os anos, o primeiro Domingo do Tempo da Quaresma é dedicado a contemplar o mistério das “tentações” de Jesus. O relato aparece em Mt, Mc e Lc. O mais breve e conciso é o que nos toca este ano, no Ciclo B, o relato do evangelista Marcos. Em quatro versículos, sintetiza o que os outros evangelistas sinóticos desenvolvem em pouco mais de 11 (Mt) e em 13 (Lc) versículos.Considero que este ano, portanto, convém abordar o texto evangélico em sua totalidade, mais do que nos detalhes, dado que estes são mais reduzidos. Que afirmações podemos fazer, pois, sobre as tentações de Jesus?Em primeiro lugar, devemos levar em conta que a tentação não é um pecado. Jesus é Deus e, por conseguinte, não tem pecado; experimenta, em sua humanidade, a tentação, mas não sucumbe a ela. Há pessoas que confundem tentação e pecado. Isto é um erro. A tentação é perceber a ação de Satanás, que quer afastar do caminho de Deus, do bem e da verdade. O pecado é con-sentir, sucumbir à tentação…Em segundo lugar, devemos considerar que não é Deus quem tenta, mas sim, Satanás, o Diabo, o “pai da mentira”. Deus não tenta ninguém, visto que a tentação é causar o distanciamento de Deus e de seus desígnios. Por isso, que ninguém se confunda e pense ou diga que é tentado por Deus… A verdade é que Deus permite a “prova” ou a “cruz” em nossa vida. Isto é muito misterioso, e muitas vezes não se encontra explicação “racional” para a realidade da doença, das catástrofes, da morte e dos sofrimentos em geral. Contudo, se Deus permite a provação, não é para afastar-nos dele e de seus caminhos. Pelo ao contrário. Deus permite a prova em nossa vida para que sejamos fortalecidos em nosso caminho de fé…Em terceiro lugar, é preciso levar em conta que Jesus não foi somente tentado nesta ocasião particular que nos é relatada. Este texto é um momento prototípico das tentações de Jesus, que servem como modelo para a realidade de toda a sua vida. Muitas vezes e de diversas formas, ao longo de sua vida terrena, Jesus foi tentado por Satanás. De fato, no relato de Marcos, não nos é contado, como nos outros dois evangelhos sinóticos, quais foram as armadilhas de Satanás para afastar Jesus do caminho do Pai. Não conhecemos algumas das tentações do Senhor, visto que os evangelistas não puderam contar todos os acontecimentos da vida de Cristo, mas apenas alguns. Outras tentações aparecem nos textos evangélicos em mais de uma oportunidade: por exemplo, quando querem proclamá-lo rei, a partir de uma perspectiva terrena, social e política; quando querem que realize “milagres” segundo o gosto e a necessidade pontual de cada grupo e/ou pessoa; quando querem fazer com que baixe da cruz e demonstre que realmente é Deus etc.

Para levar em conta: O deserto tem, no Antigo Testamento e na literatura extrabíblica do povo da Antiga Aliança, uma simbologia multifacetada. Por um lado, é sinal do inóspito, difícil, “árido”, associado à falta de água e de vida. Por outro, é um lugar de encontro com Deus, pelo que comporta de busca do essencial, do mais importante. É o espaço da necessidade de purificação e de volta ao essencial que provoca no coração um lugar com estas características…

Outros textos bíblicos a serem comparados: Mt 4.1-11; Lc 4.1-13; Dt 8.1-2; Jo 13.2-27; Lc 22.3.53.

Para continuar o aprofundamento destes temas, pode-se consultar o índice temático da Bíblia de Estudo NTLH, o verbete: “Tentação”.

Perguntas para a leitura

·         Como começa o relato?

·         Quem conduz Jesus?

·         Para onde o conduz?

·         Quanto tempo Jesus permanece no deserto?

·         Com “quem” convive?

·         Que pretende fazer Satanás?

·         Descrevem-se as “armadilhas” de Satanás?

·         Quem “cuida” de Jesus?

·         O que faz Jesus depois da experiência do deserto? Para onde se dirige?

·         Que convite faz Jesus na Galileia?

·         Que implicações tem o voltar-se para Deus e acreditar na boa notícia?

·         Qual é o conteúdo da “boa notícia”?

2 – MEDITAÇÃO

O que me diz? O que nos diz?

Perguntas para a meditação

·         Deixo-me conduzir pelo Espírito de Deus?• Aonde me leva hoje o Espírito de Deus?

·         O que implica, para mim, o deserto?• Que tipos de “deserto” experimento em minha vida hoje? Que desertos vivi no passado? Que desertos posso vislumbrar em meu futuro?

·         Como reajo perante a realidade do deserto?

·         Quais são minhas tentações hoje? Quais sãos as armadilhas de Satanás para afastar-me do caminho?

·         Confundo tentação e pecado? Onde está a diferença?

·         Confundo tentação de Satanás com provação de Deus? Qual é a diferença?

·         Escuto Jesus, que neste começo da Quaresma de 2012 me anuncia uma vez mais “a boa nova do Reino”?

·         Que implica, para mim, hoje, voltar-me para Deus e converter-me de coração?• Creio realmente na boa notícia de Jesus?

3 – ORAÇÃO

O que lhe digo? O que lhe dizemos?

Para iluminar as respostas da oração, proponho-lhe um texto de Santo Agostino que comenta as tentações de Jesus, aplicando-as à vida dos discípulos:

Com efeito, nossa vida, enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigo e tentações…Portanto, o Senhor nos representou em sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás. Líamos há pouco no Evangelho que nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado pelo demônio no deserto. De fato, Cristo foi tentado pelo demônio. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque ele assumiu a tua condição humana, para te dar a sua salvação; assumiu a tua morte, para te dar a sua vida; assumiu os teus ultrajes, para te dar a sua glória; por conseguinte, assumiu as tuas tentações, para te dar a sua vitória.Se nele fomos tentados, nele também vencemos o demônio. Consideras que o Cristo foi tentado e não consideras que ele venceu? Reconhece-te nele em sua tentação, reconhece-te nele em sua vitória. O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer a tentação.Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo (Sl 60,2-3)

As reflexões de Santo Agostinho ajudam-nos a “conectar” vitalmente as tentações do Senhor às tentações de nossa vida cotidiana. Contudo, o acento não é posto na tentação, mas na vitória de Cristo sobre os ardis de Satanás. Esta vitória é garantia e segurança que vem de Deus para nós, em nossa lua contra o mal e contra o pecado.

4 – CONTEMPLAÇÃO

Como interiorizo a mensagem? Como interiorizamos a mensagem?

Para interiorizar a mensagem, pode-se contemplar a imagem do “deserto” na realidade de nossa vida, assumindo o compromisso de “vencer” a tentação com a graça de Deus em nossos corações.Proponho-lhe repetir algumas frases desta maneira:• No deserto de meus medos, quero, com tua graça, vencer a tentação…• No deserto do desalento, quero, com tua graça, vencer a tentação…• No deserto do da falta de esperança, quero, com tua graça, vencer a tentação…• No deserto de…• No deserto de…

5 – AÇÃO

A que me comprometo? A que nos comprometemos?

Propostas pessoais

·         Analisar as três possíveis tentações mais tangíveis de minha vida hoje.

·         Realizar um propósito real, concreto e verificável de crescimento espiritual no começo desta Quaresma, rechaçando a tentação com a graça do Senhor.

Propostas comunitárias

·         • Refletir em grupo sobre o sentido da Quaresma como caminho de preparação para a celebração da Páscoa de Jesus.

·         Dialogar em seu ambiente juvenil para detectar as “tentações” mais habituais dos jovens, tentando descobrir as causas e pensando nos possíveis caminhos de solução para superá-las.

Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma 2012

“Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmosao amor e às boas obras” (Heb. 10,24)

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito, este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e pela partilha, pelo silêncio e pelo jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (10,24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor “com um coração sincero, com a plena segurança da fé” (v. 22), de conservarmos firmemente “a profissão da nossa esperança” (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, “o amor e as boas obras” (v. 24). Na passagem em questão, afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24 que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, reciprocidade e santidade pessoal.

1. “Prestemos atenção”: responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a “prestar atenção”: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a “observar” as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12,24), e a “dar-se conta” da trave que têm na própria vista, antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6,41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a “considerar Jesus” (3,1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte, o verbo que aparece na abertura da nossa exortação convida a fixarmos o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estarmos atentos uns aos outros, a não nos mostrarmos alheios e indiferentes ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela “esfera privada”. Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o “guarda” dos nossos irmãos (cf. Gn 4,9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé, deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter-ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: “O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo” (Carta Enc. Populorum Progressio, 66).

A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é “bom e faz o bem” (Sal 118/119, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de “anestesia espiritual” que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O Evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, “passam ao largo” do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10,30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de “prestar atenção”, de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Devemos sempre ser capazes de “ter misericórdia” por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Pelo contrário, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: “O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende” (Prov 29,7). Deste modo entende-se a bem-aventurança “dos que choram” (Mt, 5,4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.

O facto de “prestar atenção” ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui, desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma, tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: “Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber” (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18,15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de “corrigir os que erram”. É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto, a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou de censura; é sempre movida pelo amor e pela misericórdia, e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: “Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado” (Gal 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos em direcção à santidade. É que “sete vezes cai o justo” (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22,61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.

2. “Uns aos outros”: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o “guarda” dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica, e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que “leva à paz e à edificação mútua” (Rm 14, 19), favorecendo “o próximo no bem, em ordem à construção da comunidade” (Rm 15, 2), sem buscar “o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos” (1Cor 10,33). Esta recíproca correcção e exortação em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.

Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada à dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que “os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros” (1Cor 12, 25) – afirma São Paulo – porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E saber reconhecer o bem que o Senhor faz nos outros e agradecer com eles os prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos, é também atenção aos outros na reciprocidade. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5,16).

3. “Para nos estimularmos ao amor e às boas obras”: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1Cor 12,31-13,13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, “como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia” (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo que nos é concedido na nossa vida é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim, a própria Igreja cresce e desenvolve-se para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegarmos à plenitude do amor e das boas obras.

Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de “pôr a render os talentos” que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à “medida alta da vida cristã” (João Paulo II, Carta Ap. Novo Millennio Ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: “Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima” (Rm 12,10).

Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de se esforçar por crescer no amor, no serviço e nas boas obras (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 3 de Novembro de 2011

Benedictus PP. XVI